quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

AS TENTATIVAS DE RENOVAÇÃO DA HQ BRASILEIRA (EDITORA ABRIL - ANOS 1970)



Quando vemos uma atitude ousada como essa da Abril em voltar a investir em hqs nacionais (ver matéria anterior) nos lembramos que, em outras épocas ela já fez isso, com tanto entusiasmo e investimento como agora, e também que outras editoras o fizeram. Lá atrás, em 1974, a Abril lançava a revista CRÁS, publicação mix que apresentava novos personagens brasileiros. A ideia apresentada por Claudio de Souza, que foi um dos grandes editores de hqs da Abril, era apresentar um panorama da nova hq brasileira, dar espaço aos novos artistas e até lançar em revista própria os personagens que fizessem mais sucesso. Em seis edições, o público conheceu e curtiu grandes criações, verdadeiros clássicos hoje em dia:
KACTUS KID (Renato Canini) - Foi a grande revelação da revista, deste que é um dos maiores desenhistas do Brasil. As histórias do agente funerário Zeca Funesto que se transforma em KACTUS KID para conseguir "clientes"  fizeram e fazem sucesso até hoje. Infelizmente nunca foi lançada em revista própria.


SATANÉSIO (Ruy Perotti) - grande sucesso da revista, as histórias de um diabo desmoralizado sempre ás voltas com um anjo que insiste em protejê-lo fez tanto sucesso que foi lançado em título próprio, em quatro edições.
ZODIAKO (Jayme Cortez) - a obra máxima de Jayme Cortez estreou nas páginas da CRÁS, e logo foi publicada em álbum próprio pela Editora Saber. Em seguida saiu também na Itália e rendeu ao seu autor o Troféu O Tico-Tico.


SACARROLHA (Primaggio Mantovi) - Vencedor de um concurso (olha aí outra iniciativa em prol da hq brasileira) promovido em 1972 pela RGE (Rio Gráfica e Editora), foi publicado em título próprio (36 edições), e com a contratação de seu autor pela Abril, foi relançada dentro do título DIVERSÕES JUVENIS em quatro edições e passou a sair nas páginas da CRÁS.
Outros personagens da revista: BINGO (Paulo José), O PATO (Ciça), O LOBISOMEM (Julio e Herrero), ARAGÃO e POPOTO E TONELÉ (Cesar Sandoval), ONOFRE (Julio e Michio), entre outros.
Vale lembrar ainda que a CRÁS fazia parte da série DIVERSÕES JUVENIS, título que a cada edição mensal apresentava um personagem diferente, brasileiro ou estrangeiro, e partia da mesma premissa que, caso as vendas fossem muito boas, o personagem ganharia título próprio. Foi assim que LULUZINHA e BOLINHA foram lançadas em 1974. Nos anos seguintes saíram de suas páginas para ganhar alçar vôo solo, PERNALONGA, O PICA-PAU, OS JETOSNS e FRAJOLA E PIU-PIU. A Abril apostou na volta do PERERÊ (Ziraldo) em julho de 1975, publicou GABOLA (Ruy Perotti) em outubro de 1976 e apostou em CACÁ E SUA TURMA (Ely Barbosa) em fevereiro de 1977.




Em seguida, outro grande projeto da Abril, na tentativa de fortalecer o mercado de quadrinhos brasileiros, foi o PROJETO TIRAS, criado em 1979. Dirigido por Ruy Perotti e coordenado por Wagner Augusto, funcionava como os syndicates americanos, distribuindo tiras de personagens brasileiros por vários jornais do país. Para essa empreitada, Primaggio Mantovi lançou O VETERINÁRIO, Carlos Avalone apresentou o seu CARRAPICHO (lançada em título próprio nos anos 1980), Renato Canini apresentou o indiozinho TIBICA (publicado recentemente pela Saraiva) e Ruy Perotti trouxe para as tiras o SUGISMUNDO (sucesso em comercial de tv). O projeto durou pouco mas rendeu uma sobrevida para alguns artistas, que continuaram a publicar seus personagens em jornais, mesmo após a extinção do núcleo.
De lá para cá, a Abril lançou muitos títulos de hqs brasileiras. Mas foi se afastando dessa área, depois da extinção do estúdio Disney, e do mercado, que caiu drasticamente nos anos 1990. Até que surge agora, em 2010, com o PRÊMIO ABRIL DE PERSONAGENS, concurso criado para revelar novos talentos das hqs infantis, e que nos trouxe UFFO, e GAROTO VIVO, já nas bancas. Que o empenho e entusiasmo da Abril não diminua diante dos obstáculos de nosso mercado, que são muitos. Que continue a investir, trazendo novos artistas e personagens para um público que, além da TURMA DA MÔNICA, não conhece mais nada de quadrinho nacional, e que inspire outras a fazerem o mesmo e abrirem as portas para nossos artistas, como fez a EDITORA TRAMA, em 1997. Mas isso é assunto para a próxima matéria.

6 comentários:

  1. Não dá pra acreditar que estes personagens sumiram das bancas. Quem viveu nos anos 70 sabe e curtiu muito esta fase. Eu também estava lá com estas revistas nas mãos e lembro com saudade até hoje...

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    1. Eu tb, Paulo...realmente foi uma época muito boa...de bancas cheias de gibis para comprar...eu pedia dinheiro pra minha mãe e torrava tudo nos gibis....rsrsrs abs

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  2. Eu lembro da Turma do Cacá e do Pererê. Era muito criança nesta época. Pena que as revistinhas sairam das bancas. Que bom que a turma da Luluzinha está de volta.
    Parabéns pelo Blog.

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  3. Eu também gostei muito da volta da Luluzinha e Bolinha. E vamos torcer tb para alguma editora daqui se interessar por trazer de volta o RIQUINHO, que já reestreou nos EUA! Abração e obrigado pelo elogio!

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  4. Blog exclusivo Revista Crás!: www.revistacras.blogspot.com

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