quarta-feira, 18 de maio de 2011

STREET FIGHTER: O SUCESSO DA VERSÃO BRASILEIRA

CAPA DO NUMERO 1 DE STREET FIGHTER, ED. ESCALA, 1994

Na década de 1990, uma revista em quadrinhos produzida no Brasil fez bastante sucesso, utilizando-se de personagens de um famoso video game. Era a revista STREET FIGHTER. Ela chegou ao Brasil em 1994 pelas mãos da Editora ESCALA. Era no início, apenas a tradução da versão americana, produzida pela Malibu Comics, baseada no jogo de sucesso da CAPCOM. Com isso a  novata ESCALA entrava com mais um título de quadrinhos nas bancas, buscando cada vez mais a preferência dos leitores. A tradução e edição da revista foi entregue a Marcelo Cassaro e as letras à Miriam Tomi. Porém a série durou pouco nos EUA, pois a CAPCOM exigiu seu cancelamento, devido a absurdos cometidos pelos seus roteiristas, como por exemplo, a morte trágica de um dos principais personagens. Com o fim do gibi americano, a ESCALA tentou publicar as oito edições do mangá original japonês, sem sucesso. Decidiu-se então continuar a revista por aqui, com roteiros e desenhos brasileiros, expediente já utilizado por outras editoras, como a ABRIL, com ZÉ CARIOCA, LULUZINHA, HE-MAN, e outros.
A partir do número 4, surge então a nova STREET FIGHTER, com roteiro de Marcelo Cassaro, desenhos de Arthur Garcia e João Pacheco, e arte final de Toninho Lima, Alexandre Silva (meu xará) e José Wilson Magalhães. A partir do número 6, com a saída de Cassaro da ESCALA, entra o desenhista e roteirista Alexandre Nagado, que começa uma nova versão da história, ressuscitando, inclusive o Ken, personagem que havia morrido na versão da Malibu. E aí a revista deslancha. O sucesso é estrondoso, fazendo a editora investir cada vez mais na publicação, como passar do formato comic book para o formatinho e dobrar o seu número de páginas, das 24 iniciais para 48, com capa dupla! Isso aconteceu a partir da edição 14.
CAPA DO NUMERO 4, A PRIMEIRA COM PRODUÇÃO NACIONAL.


A revista movimentou um grande número de artistas brasileiros, que participaram da produção, como os já citados acima e mais: Lilian Mitsunaga, Neide Harue, Douglas Alves, Silvio Spotti, Alvaro Omine, Sonia Uemura, Noriatsu Yoshikawa, Rodrigo de Góes e este que vos escreve.
Depois da edição 16, entraria a minissérie AKUMA, a primeira escrita pelo novo editor, Rodrigo de Góes. Porém aconteceram vários problemas durante a produção, e a revista ficou fora de circulação durante um tempo. O colorista, meu amigo Noriatsu Yoshikawa, então contratado da ABRIL, estava atrasado com a colorização. A solução encontrada, foi entrar com outra história, até que a produção desta se concluísse. Aí, eu sou convidado a entrar na revista e faço a minha estreia no número 17, com novo formato (americano), colorizando a historia CASSINO, de Rodrigo de Góes, uma incursão dos personagens no universo da espionagem, bem ao estilo de James Bond.
CAPA DO NUMERO 17, MINHA ESTREIA NA REVISTA COMO COLORISTA
Colorizei a edição inteira e participei da seguinte também (número 18), trabalhando em cima dos belíssimos desenhos do meu amigo Arthur Garcia, com a competente arte final de Silvio Spotti. Com a saída de Noriatsu da revista, acabei concluindo a minissérie em três edições AKUMA, fazendo a última delas. Assim, na edição 19, finalmente chega as bancas a primeira parte de AKUMA, introduzindo novos personagens, em uma história simplesmente eletrizante.
CAPA DO NUMERO 18. TODAS AS CAPAS E PAGINAS PINTADAS Á MÃO, COM ECOLINE (AQUARELA LÍQUIDA)

Com a chegada do número 20 nas bancas, uma triste notícia: a revista seria cancelada. Até hoje, naõ sei realmente o motivo, pois ela vendia bem. Com certeza, problemas contratuais, impediram os leitores de conhecerem o final da saga de AKUMA, que sairia no número 21, pintado por mim e nunca publicado. Fiz também a colorização do número 22, que permanece também inédita. Algum tempo depois, STREET FIGHTER voltou as bancas pela Editora TRAMA, retomando os personagens que apareceram na saga de AKUMA, em uma nova minissérie, escrita por Marcelo Cassaro, desenhada pela Erica Awano (Holy Avenger) e colorizada por Wagner Fukuhara. Mas nem de longe fez o sucesso que a série da ESCALA fez durante três anos, um feito para uma revista brasileira, mesmo que utilizando personagens de fora. É o trabalho preferido do grande Alexandre Nagado, sem dúvida nenhuma, um dos grandes responsáveis pelo sucesso da revista, criador de grandes e emocionantes sagas. Trabalho preferido também do mestre Arthur Garcia, desenhista da série, brilhante, com suas capas duplas, diagramação dos quadros arrojada, e cenas de tirar o fôlego. E inesquecível para mim, que entrei no finalzinho, fazendo apenas 4 edições (só saíram duas, nas bancas), mas tenho um orgulho enorme de ter participado desse grande gibi.

CAPA INÉDITA DA EDIÇÃO 21, COM A CONCLUSÃO DE "AKUMA".

domingo, 1 de maio de 2011

DREADSTAR, A CRIAÇÃO MÁXIMA DE JIM STARLIN

CAPA DO NUMERO 1

Em julho de 1990, a Editora Globo colocava nas bancas o seu primeiro título mensal de super-heróis: DREADSTAR, O GUERREIRO DAS ESTRELAS. Era a primeira investida num terreno dominado pela ABRIL JOVEM, que a alguns anos detinha os direitos de publicação dos títulos das duas maiores editoras de hqs dos EUA, Marvel e DC. Um ano antes, a mesma já havia se lançado com grande sucesso no ramo das minisséries com ORQUÍDEA NEGRA, de Neil Gaiman e Dave Mckean, abalando os alicerces da poderosa ABRIL JOVEM.
DREADSTAR, escrita e desenhada por Jim Starlin, é uma saga interplanetária que conta a história de um homem, Vanth Dreadstar, sobrevivente de uma explosão que devastou a Via Láctea, que acaba se envolvendo em uma guerra envolvendo duas forças, a Instrumentalidade, comandada pelo vilão Lorde Papal, e a Monarquia.



Nessa série da Editora Globo, fui chamado para fazer o DECORADO das paginas, pelo ESTÚDIO IMAGIA, do meu grande amigo Nilton Sperb (hoje morando nos EUA). Mas o que seria DECORADO???? Bem, antes do computador ser utilizado para diagramar livros e revistas, tudo era feito na prancheta, com régua, cola e tinta nanquim. As hístórias chegavam da matriz americana em uma cópia PB, chamada "bromuro", e precisávamos remontá-la para ser publicada em formatinho (do tamanho das revistas da MÔNICA). Acontece que, na remontagem, tinhamos que recortar os balões em inglês, e redesenhá-los, com o letreiramento em português. Isso deixava "buracos" no desenho, pois, na tradução, muitas vezes, o texto ficava menor, e consequentemente o balão também. Esses "buracos", eram "decorados", ou seja desenhados por nós, aqui no Brasil, imitando o estilo do desenhista original. Completávamos cenários, personagens, ás vezes, mãos, pés, coisas que não apareciam, pois ficavam atrás de balões,e agora teriam que aparecer...tudo feito a caneta de nanquim. Todos os títulos da ABRIL JOVEM e da GLOBO passavam por esse processo.
Era uma MARAVILHA pegar cenas de mestres como Jim Starlin e ter a honra e o prazer de  completar a cena com o próprio traço!!!

Nessa página, para imitar o tratamento de cores aplicado na ultima cena, recorri a uma escovinha de dentes, borrifando tinta ecoline, para completar as laterais e em volta dos balões.

Em DREADSTAR, fiz esse trabalho a partir da edição 2 e fiquei até o final, na edição 10. Esta série dispunha de um tratamento diferenciado na arte, por ser do selo EPIC da MARVEL, que permitia certas ousadias. Cenas inteiras sangravam nas páginas fazendo uma diagramação arrojada, outras eram pintadas bem ao estilo de Alex Ross, á mão, e isso a diferenciava dos demais títulos de super heróis da época.
A trama se desenrolava em capítulos, você tinha que esperar a edição seguinte para continuar acompanhado a história, que continha todos os chavões do gênero hq: referências bíblicas, espadas mágicas, paixões, extraterrestres, nascimentos e mortes.
Por problemas de contrato, a GLOBO encerrou a série no número 10, com uma tiragem que beirava os 30.000 exemplares. Uma excelente hq, muito bem escrita e desenhada por Jim Starlin e que deixou muitas saudades em mim, pois pude participar da versão brasileira, fazendo um trabalho que desapareceu, assim como outros ofícios que ficaram pra trás, perdidos no tempo, como past-up, titulador...epa, mas o que é isso?