quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

INVENTANDO HISTÓRIAS

A trajetória do desenhista Fernando Ventura

Uma das primeiras hqs Disney do artista. Publicada em 2000.

O que você faria se, aos 21 anos de idade descobrisse, que o que você escolheu como profissão simplesmente deixou de existir? Ou que você sonhava entrar em uma empresa, e quando consegue entrar, ela vai á falência? Muitos desistiriam, diante de tal situação.
Não foi o caso do quadrinhista Fernando Ventura. Nascido em 1980, sempre foi um ávido leitor de gibis. Principalmente os títulos Disney. E de leitor e colecionador, passou a se interessar pela arte, despertando em si, o dom que estava lá, escondido.

Inventando histórias, ele foi treinando e aprimorando, mas precisava de um mestre, um guia, uma referência. E buscou no mercado, um dos melhores que, por sorte, acabara de abrir uma escola para ensinar jovens talentosos como ele. 
Quando entrou na Escola de Arte de Waldyr Igayara, sabia que estava em boas mãos. Afinal, ele  foi um dos primeiros a desenhar hqs Disney no Brasil, além de ter dirigido as suas publicações na Editora Abril por bastante tempo. E foi o mestre, que o indicou para um teste na Redação Disney.
Inventando histórias, criando, desenhando, ele conseguiu a tão sonhada oportunidade: mostrar seu talento nos quadrinhos Disney. 



Página da hq O PLÁSTICO BOLHA, clássica hq de Fernando Ventura.

Como que um marinheiro, que sonha em navegar em mares calmos, ele literalmente (sem querer ser grosseiro), entrou em um barco afundando, no meio de uma tempestade. Ora, no final da década de 1990, os quadrinhos Disney seguiam sem rumo, perdendo público. Toda uma geração de artistas havia sido mandada embora em 1997, de uma vez só. A solução para prosseguir, foi terceirizar a produção e baratear as revistas. Assim, muitos artistas viraram pessoa jurídica para continuar trabalhando e muita gente nova entrou. Ventura entrou aí.

 Através do estúdio de Orlando Paes Filho (autor da série de livros ANGUS), entraram, não só ele, mas também Dave Santana, Markus Correa,  Nelson Pereira, Toni Caputo. Competentes artistas. Sonho realizado, Ventura tratou de botar a mão na massa e criar.

E como sempre foi em sua vida, inventando histórias, ele surpreendeu o público com roteiros mirabolantes, com um traço inovador, moderno, com a clara intenção de adentrar o século XXI, apresentando uma Disney renovada, antenada com esse novo público nascido na era da internet. Mas era tarde demais. Com urgência de resultados, e sem esperar o público voltar e conhecer o que eles estavam fazendo, a editora decide cancelar toda a produção de novas histórias. 




A partir daí, só republicação. Fernando Ventura, que tanto sonhara com a oportunidade, consegue desfrutar desse sonho por pouco mais de dois anos.
E agora, o que fazer? Trabalhar com hqs Disney era a sua vida! Chegou a dizer para si mesmo que havia nascido em época errada! Porque chegar logo agora quando tudo estava acabando? Mas tal e qual nas histórias, quando no meio da tempestade, o barco vira com todo mundo, ele escapa e segue em frente remando em um pedaço de madeira. 

Não tem mais nada novo? Foi colorir as hqs antigas. Foi ensinar desenhar os patos na televisão,  foi traduzir e desenhar hqs para a Dinamarca. Foi criar e organizar, junto ao roteirista Arthur Faria jr, o braço brasileiro do INDUCKS, base mundial de dados, que cataloga e credita todas as hqs produzidas com os personagens Disney.

Página da hq ACRESCENTANDO UMA TORNEIRA, produção inédita de Fernando Ventura, para o especial ZÉ CARIOCA 70 anos, Volume 2


Como que, não querendo aceitar que tudo tinha acabado, ele continuou inventado histórias, que muitos diziam que nunca seriam publicadas, que era um trabalho perdido. Com uma perseverança incomum, ele atravessou a década passada, criando para si mesmo, roteiros e desenhos, dando vida aos personagens Disney por aqui, mesmo tudo tendo o mesmo destino: a gaveta.

Inventando histórias, ele inventou uma para si mesmo: a de um artista em plena atividade em uma época que já não existia mais. E acreditando nessa utopia, ele acabou transformando-a em realidade.

A partir de fevereiro de 2013 a revista do Zé Carioca, passou a ter pelo menos uma hq inédita em sua edição.
Na estreia: Fernando Ventura, em uma história escrita, desenhada e colorizada por ele.

Inventando histórias e acreditando nelas, ele tenta trazer de volta uma época, onde o Brasil era um dos maiores produtores de hqs Disney do mundo.
Vai dar certo? Vai durar? Não importa! TUDO já valeu a pena!


Capa da edição histórica de ZÉ CARIOCA, n. 2380, que traz de volta  a produção de hqs Disney no Brasil.



3 comentários:

  1. Parou Alexandre! Manda esse Ventura e esse Crocante pra desenhar na Argentina. Foi ele quem acabou com a produção Disney no Brasil. Quem vai ser louco de querer arte-finalizar o traço escrachado que ele faz? Fora Ventura! Há, há, há.

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  2. Rsrsrsrsrs...seu que vc tá brincando, né, Wilson, pq vc tb está participando dessa retomada!! Com um time desses: Ventura, Arthur Faria, Podavin, Herrero e Você, essa fase tem tudo pra dar certo! Abração!

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