segunda-feira, 22 de setembro de 2014

TRISTE PARTIDA

 Cedraz deixa como legado, uma belíssima obra. Seus personagens infantis não vivem em um mundo cor de rosa, mas em um com tonalidade mais para o ocre, da terra seca e batida, e mesmo assim são alegres e felizes, como toda criança deve ser

Infelizmente não deu tempo do criador da TURMA DO XAXADO, vê-la chegar à televisão, ou mesmo à uma grande editora. Afinal, se fosse depender de "algumas", eles jamais teriam saído da terra de Jorge Amado.
Porém, a turminha criada em 1998 pelo desenhista baiano Antonio Luiz Ramos Cedraz, vendo que tudo era muito difícil mesmo, arregaçou as mangas e, tal e qual um retirante, botou o pé na estrada e saiu para conquistar seu espaço.

Teve gente que ajudou, claro!
Primeiro, de sua terra natal. O jornal A TARDE, de Salvador, foi quem solicitou à Cedraz uma série de tirinhas. Já aposentado, o ex-bancário pôde finalmente se dedicar integralmente à sua paixão, que eram as histórias em quadrinhos, pois durante muito tempo, mesmo precisando pagar as contas, nunca deixou de batalhar pelo seus trabalhos em HQ.

Xaxado nasceu como personagem secundário da TURMA DO PIPOCA, gibi de Cedraz publicado pela Sisal Editora, que teve cinco números produzidos, e só um publicado.

Lá atrás em 1989, Cedraz já tinha sido destaque do 2º Encontro Nacional de Histórias em Quadrinhos de Araxá, MG, e publicado inúmeros fanzines, além de suplementos infantis em jornais.
Entre tantos personagens criados, pensou em apresentar algo inédito para o jornal. Lembrou-se de sua infância vivida na cidade de Miguel Calmon (BA), e também na cidade de Jacobina, onde cresceu e passou a dar aulas para o curso primário.

E aí surge, XAXADO, o neto de cangaceiro, cuja única coisa herdada do avô, foi o chapéu. Alegre, esperto, e sempre atento aos problemas da vida no campo, ele se destaca entre seus colegas, e vive numa típica cidade do interior do nordeste brasileiro. Toca sanfona e ainda trabalha na roça pra ajudar a família. Seu melhor amigo é Zé Pequeno, um garoto típico do interior, até no jeito de falar. Ingênuo e preguiçoso, vive se metendo em confusões. Completam a turma a Marieta, apaixonada pela Língua Portuguesa; Arturzinho, filho de um rico coronel fazendeiro; Capiba, que sonha em ser cantor nordestino e é fã de Luiz Gonzaga e Marinês, irmã de Capiba e namorada de Zé Pequeno. Para completar, ainda tem o Padre (pároco da igreja matriz), o jumento Veneta, a galinha caipira Odete, o porquinho Linguicinha e o Saci, habitante da mata, sempre aprontando alguma para a turma.


Toda essa turma reunida foi parar no jornal A Tarde.
Nascia ali uma das mais incríveis criações dos quadrinhos brasileiros.
A TURMA DO XAXADO combinava quadrinho infantil com crítica social, algo inédito e difícil de se fazer, e é justamente aí que se configurava sua grande dificuldade em alçar vôos maiores.
Xaxado observa e reflete sobre o que vê, tal e qual a Mafalda, do argentino Quino.

De cara, conquistaram o público local, mas queriam mostrar suas histórias para todo o Brasil. E esbarraram nas dificuldades, comuns para quem nasce fora do eixo Rio-São Paulo. E também, na temática de suas histórias, que mostravam entre as aventuras da turma, a dura realidade do povo brasileiro que vive fora das grandes cidades, coisa que muitos se recusam a ver. Afinal, como diz a letra da música de Maurício Tapajós e Aldir Blanc, eternizada na voz de Elis Regina: "O Brasil não conhece o Brasil, o Brasil nunca foi ao Brasil".

Mas como eu disse no início, tal e qual muitos de seus filhos, que abandonam o sertão e a seca e partem num pau-de-arara rumo à uma vida melhor, a turminha botou os pezinhos na estrada de terra e prosseguiu, querendo mostrar para todo mundo que são felizes, mesmo com tantos problemas à sua volta.

 
A dura realidade do sertão nordestino, é narrada em "Morte e Vida Severina".
Cedraz também a descreve nos quadrinhos, com humor e poesia. 

Acima, trecho do especial "Morte e Vida Severina", produção da Rede Globo de 1981, dirigida por Walter Avancini, baseado na obra de João Cabral de Melo Neto, com músicas de Chico Buarque.
   


Muitas editoras disseram não para as criações de Cedraz. Outras nem o receberam, afinal, o mundo da TURMA DO XAXADO não é cor de rosa. Como uma história em quadrinhos pode mostrar para as crianças, a seca, o coronelismo, a prepotência dos poderosos contras as classes baixas, o sincretismo religioso, o desemprego, o descaso da saúde pública, o desmatamento da natureza e até falar de REFORMA AGRÁRIA? 

Tudo isso era ousadia demais para alguns, como para a EDITORA GLOBO, por exemplo, que em 2006, logo após perder Maurício de Sousa para a PANINI, recebeu todo o projeto da TURMA DO XAXADO para apreciação, e nem o respondeu de volta.

Mostrar a realidade do Brasil para as crianças e ajudá-las a formar opinião? Não, de jeito algum. Era melhor continuar mostrando o mundo de casas de telhados perfeitos, com janelas abertas e cerquinha branca na frente...Ah!...e Papai Noel descendo pela lareira no fim do ano...





A seca


Reforma Agrária



Mas felizmente muitos apoiaram, e se as grandes editoras lhes fechavam as portas, outras menores, abriam.
O apoio incondicional do jornal A Tarde e o sucesso da publicacão das tirinhas por lá (são publicadas desde 1998), motivou a Editora Escala, de São Paulo, a finalmente colocar nas bancas um gibi da TURMA DO XAXADO.
Isso aconteceu em 2000, com um título que combinava HQs com atividades infantis e que a partir do número 3, virou formatinho e passou a publicar só as HQs, enquanto as atividades foram parar em outros dois títulos. No total, Foram publicadas cinco edições de quadrinhos e mais trinta de atividades.

Estreia em 2001, da revista da TURMA DO XAXADO nas bancas, pela Editora Escala

Sincretismo religioso

A destruição da natureza

Mas foram as editoras de livros didáticos que mais publicaram as tirinhas do Xaxado. Seus autores começaram a solicitar às editoras, que comprassem as tiras para utilizá-las em suas obras.
E daí foram surgindo as premiações.  Seis Troféus HQ MIX, além de ser Mestre do Quadrinho Nacional pelo Prêmio Angelo Agostini, da AQC.
Cedraz publicou vários livros, muitos deles, com o apoio do Governo do Estado da Bahia, através do programa Fazcultura.

  Lendas brasileiras sempre presentes nas histórias da turma

Cartilhas educacionais sobre como combater a Dengue, como economizar àgua, educação para o trânsito, incêndios florestais e muitas outras, são produzidas pelo Estúdio Cedraz, que conta com a colaboração de desenhistas, roteiristas e coloristas. Tudo tinha a supervisão do mestre.
Vários jornais passaram a publicar as tirinhas do Xaxado, entre eles o jornal O SUL, de Porto Alegre! Pois é. Era a turminha chegando ao extremo sul do País.

 Cartilhas de combate à Dengue, produzidas em seus estúdios

Em 2010, uma nova tentativa de retorno às bancas, aconteceu pela HQM Editora de São Paulo.
A nova revista Xaxado e sua turma, tinha 32 páginas coloridas, em papel encorpado e trazia novas histórias da turminha, anúncios dos vários livros publicados e depoimentos de leitores e colegas, que davam as boas vindas à nova publicação. Foram lançadas quatro edições.

 Capas dos números 1 e 2 de Xaxado e sua turma; HQM Editora, 2010


 No último mês de janeiro, o site Quadro a Quadro festejou a carreira de Antonio Cedraz, na primeira edição do evento Mestre dos Quadrinhos, com uma exposição-homenagem de vários desenhistas brasileiros e um badalado jantar para convidados.
Na foto, Lucas Pimenta (do site Quadro a Quadro) e Antonio Cedraz.


Uma empresa passou a licenciar os personagens para merchandising.
Uma série animada começou a ser produzida pela TVE BAHIA. Trata-se de uma série de 21 episódios, com produção de Chico Liberato, um dos pioneiros da animação no Brasil, autor de "Boi Aruá", de 1983, premiada pela Unesco.

Infelizmente, Cedraz não teve a oportunidade de vê-la concluída.
Ele nos deixou no último dia 11 de setembro, aos 69 anos, vitimado por um câncer.

O maior mérito e o mais incrível na trajetória do grande Cedraz é ter feito tudo isso, ter influenciado tantos artistas, ter publicado em tantos lugares, ter chegado aonde chegou, sem o apoio da mídia, ou de grandes editoras.
Como disse no início, a turminha botou o pé na estrada de terra e guiadas pelo mestre Cedraz, chegaram a lugares inimagináveis para quem recebeu tantos nãos na caminhada.

 Cedraz, na Bienal do Livro da Bahia

Ele criou um universo riquíssimo com a TURMA DO XAXADO, mostrando às crianças o Brasil verdadeiro e seus problemas sociais, mas também a sua riqueza cultural, suas crenças, suas lendas e também sua alegria de viver, sempre em histórias bem elaboradas, que fazem o público se divertir e principalmente se emocionar.
Não são poucos os relatos de leitores do Xaxado, que vão às lágrimas ao ler determinada história.

 No álbum MSP 50, em homenagem aos 50 anos de carreira de Maurício de Sousa, Cedraz participou com uma história onde o Cascão vai visitar Xaxado e sua turma e se encanta por perceber que lá não existe água...

...e no final acaba pedindo a Deus que chova, para alegrar um pouco o coração dessa gente! 
Do álbum MSP 50 artistas, volume 1, págs 112 a 114, Editora PANINI


  Assim como Patativa do Assaré retratou com maestria a alma nordestina na música A Triste Partida, que virou sucesso na voz de Luiz Gonzaga, João Cabral de Melo Neto e Jorge Amado também o fizeram na literatura.  
Cedraz, com certeza, fez o mesmo nos quadrinhos.

Se uma criança, de pé no chão, lá do sertão de algum lugar desse Brasilzão, abrir um livrinho do Xaxado, um gibi, ou mesmo ler uma tirinha sua em qualquer lugar e viajar na história, se identificar com os personagens, se divertir, se emocionar e isso lhe abrir os olhos, passando a ter esperança num futuro melhor, Cedraz terá alcançado seu objetivo.

Eu não tenho dúvidas de que isso já esteja acontecendo.

Abaixo, uma das melhores HQs do Xaxado, e que para mim, representa tudo o que o mestre Cedraz pensava e acreditava.

Feita com o coração e com a alma.


Clique no link para asssistir a homenagem da TVE ao mestre Cedraz 


DEPOIMENTO DE GONÇALO JÚNIOR
autor de A Guerra dos Gibis, entre outros
Perder um amigo dói muito.
Perder o melhor amigo dói demais.
Conheci o cartunista Antonio Cedraz quando eu saía da adolescência, em 1983. Ele era uma celebridade entre as crianças de Salvador, na época. Fazia sozinho, da primeira à última página, toda semana, o suplemento infantil do Jornal da Bahia, o Joba. Ali, publicava passatempos e seus personagens em quadrinhos, como Jobinha, criação sua para aproximar os leitores mirins do jornal. Como colocava no rodapé o endereço da sua casa, escrevi para ele. Falei que admirava seu trabalho e pedia dicas como me tornar um desenhista. Ele me respondeu e iniciamos uma troca de correspondência pelos Correios, embora apenas o Dique do Tororó e duas ou três ruas separassem nossas casas. Um dia, convidou-me para conhecer seu estúdio. Era um sábado à tarde e lá fui eu conhecer meu ídolo. Fiquei maravilhado com seu canto para desenho, sua prancheta, seus milhares de gibis, enquanto dona Lucineide, sua esposa, servia-me suco de mangaba com bolo. Começava ali uma amizade única em minha vida. A mais longa, a mais constante, a mais verdadeira.


Eu achava que podia ser desenhista de história em quadrinhos. Acreditava que conseguiria aprender essa arte que tanto me fascinava. Mostrei a Cedraz uma pilha de desenhos, e ele, com muito jeito, disse que tinha uma equipe grande de desenhistas fazendo histórias para ele, mas precisava mesmo era de um roteirista. E que eu levava jeito. Como assim? Eu sabia desenhar, pensei. Indignado, fui para casa. Um dia depois, conclui que ele tinha razão e comecei a criar histórias. No sábado seguinte, levei 20 historinhas de três quadrinhos cada, rascunhadas. Cedraz aprovou apenas uma e sugeriu que eu melhorasse outras três. O resto não ficara bom. Uma semana depois, voltei com mais 20 novas tiras. Ele gostou de cinco. Na nova visita, escolheu oito. E por aí foi, sempre aumentando. Tirou do seu salário uma soma e me pagou. Foi a primeira remuneração da minha vida. Por alguns anos, comprava meus discos e gibis com a grana das tirinhas que ele desenhava mas não conseguia publicar. Certa vez, vendeu algumas histórias nossas para uma editora de Cuba. Babávamos ao ver nossos nomes nos gibis bancados pelo regime de Fidel Castro. Pagamento? Sim, mas só poderíamos retirar quando fôssemos àquele país, o que nunca aconteceu.


São muitas as lembranças de Cedraz. Nunca brigamos, nunca discutimos. Toda vez que vinha a um evento em São Paulo, hospedava aqui em casa. Eram longas noites de confidências e cumplicidade, falávamos de nossas vidas, sonhos e projetos, decepções, frustrações. Mas lá atrás aconteceu algo que me valeu por toda a vida. Eu editava um jornalzinho (fanzine) impresso em mimeógrafo a álcool, bem rudimentar, semelhante àquelas apostilas e provas de escola. Um dia, ele me perguntou porque eu não fazia como os outros editores e adotava a fotocópia. Ficava mais profissional, mas fácil de reproduzir os desenhos. Expliquei que ficaria caro para mim. Afinal, seriam 100 exemplares de dez páginas cada, em um total de mil páginas! Demais para um estudante cujo pai funcionário público se matava para bancar a escola dos quatro filhos. Ele não apenas me convenceu a aumentar cada edição para 32 páginas cada como, por anos, imprimiu  todos os exemplares para mim, sempre às escondidas dos colegas, no centro de treinamento e recrutamento do Banco Econômico, onde ele trabalhou por toda a vida até se aposentar – pouco antes da falência da instituição.


A melhor homenagem que ele poderia fazer a mim, no entanto, veio depois, ao batizar um de seus personagens com meu nome. Era um menino que queria ser jornalista. O mesmo menino que um dia lhe escreveu uma carta. Aquele que encontrou no amigo mais velho o apoio para ajeitar a camisa, apertar os cadarços do sapato e escolher um caminho a seguir. Uma estrada que seguimos juntos desde então.  E assim continuará, pois a força do querido amigo está aqui ao meu lado, mais viva do que nunca.
DEPOIMENTO DE SIDNEY FALCÃO
Desenhista dos estúdios Cedraz

Eu o conheci em 1984 num curso de desenho animado, aqui em Salvador, eu tinha 15 anos de idade.Já conhecia os trabalhos dele nos jorrnais como as tirinhas do Turma do Joinha, criação dele da década de 1970. Mas foi no curso que conheci pessoalmente. A partir de 1985, passei a trabalhar com ele eventualmente, seja fazendo "frilas" pra ele, já não coneguia dar conta tal, pois o volume de trabaho era grande. Fiz HQ's e tirinhas da Turma do Pipoca. Fizemos juntos ilustrações de livros e cartilhas institucionais.

Por volta de 1997 quando se aposentou do banco onde trabalhava, Cedraz decidiu montar um equipe e se dedicar exclusivamente à produção de HQ's e ilustrações. Foi uma experiência gratificante para mim.

Em 1999, o jornal "A Tarde", um dos maiores jornais do Norte/Nordeste, passou a publicar as tiras do Xaxado, no começo semanalmente e depois diariamente. Foi uma visibilidade impressionante e uma resposta rápida público, muitos mais rápida do que uma revista em banca. Foram 10 anos tiras diárias, mais de 2 mil tirinhas!!! Isso permitiu que fechássemos contrato coma Editora Escala que lançou gibi mensal, revistas de colorir e passatempo da Turma do Xaxado. Além disso, ganhamos prêmios nacionais e anda tivemos tiras do Xaxado publicadas em jornais de outros estados como o jornal "O Sul", de Porto Alegre.

Todo esse sucesso, esse êxito do Xaxado deu maior projeção a Cedraz e cravou o nome dele na galeria dos grandes nomes do quadrinho nacional. Cedraz mrecia isso, pois foi um batalhador, um guerreiro dos quadrinhos desde a década de 1970. Se fazer quadrinhos no Brasil é difícil, imagine aqui na Bahia onde não temos espaço em jornal e muito menos editora de quadrinhos. Ele conseguiu abrir caminho para as novas gerações de ilustradores e quadrinhistas baianos como o Flávio Luiz, Luiz Augusto(autor do "Fala Menino!") entre outros.

Sempre foi um homem generoso, simples e humilde. Cansei de ver moleque novo com a pasta cheia de desenhos debaixo do braço procurando ele pra pedir dicas e conselhos. Cedraz foi o cara que mais apoiou as gerações de quadrinhas que surgiram aqui na Bahia a partir dos anos 1990. Quando havia eventos e debates promovidos por jovens cartunistas e quadrinhistas baianos, Cedraz era sempre chamado pra participar...e participava com toda a boa vontade. Considero ele como um "paizão" dos quadrinhistas e cartunistas baianos.


DEPOIMENTO DE SUELY FURUKAWA

Nós fomos apresentados a Antonio Cedraz por Carlos Avalone, desenhista na antiga Divisao de Publicações Infanto-Juvenis da Editora Abril. Em uma época em que não imaginávamos a Internet, e-mails e muito menos as redes sociais, Avalone trocava figurinhas sobre o mundo das Histórias em Quadrinhos, através de cartas enviadas a Cedraz. Tempo em que DDD era inacessível de tão caro, eles eram amigos por correspondência. Quando soube que Paulo Paiva e eu iríamos passar nossa lua-de-mel na Bahia, passando por Salvador, Avalone nos deu telefone do Cedraz. Diretor de Arte do Banco Econômico, Cedraz era das raras pessoas que possuía telefone privativo em Salvador. Hospedados em um antigo hotel decadente da periferia soteropolitana, ligamos para Cedraz. Em poucas horas, ele estava lá, com seu fusquinha cor de laranja, exigindo que fechássemos a conta pra irmos diretamente pra casa dele. Nunca tinha ouvido falar da gente. Éramos os amigos de Avalone, seu correspondente. Era final de julho de 1979, o começo de uma incrível amizade que completou agora 35 anos. Através de Cedraz, conhecemos toda comunidade de desenhistas de Salvador, como Nildão, Caó e Lage. Com a ajuda dele, PP retomou contato com Setúbal, artista paulistano há muito tempo radicado em Salvador. Amigo para horas boas e ruins... Foi em momentos de nossa maior dificuldade, quando PP, após sofrer um grave AVC, ficou 35 dias em coma e 5 meses no hospital, que Cedraz se mostrou amigo para todas as horas. Me ligava regularmente naqueles dias de esperança alguma. Quando chegava exausta do hospital, me enchia de coragem, contando que rezava diariamente por nós. Pouco depois da alta do PP, veio de Salvador nos visitar. Uns dois anos depois, ele começava a sua luta contra o câncer. Incontáveis cirurgias, baterias de quimioterapia e toda sorte de tratamentos. A cada hospitalização, nos telefonava após a alta, comunicando que vencera mais uma batalha. Cedraz ainda tinha muitos planos... Mesmo sabendo que um dia o guerreiro seria vencido pelo câncer, a notícia de seu falecimento, na manhã de hoje, nos pegou de surpresa. Taí um homem que viveu intensamente, realizou uma obra incrível, tanto na vida pessoal como profissional. Autênticos personagens brasileiros, especialmente nordestinos, com riquíssima pesquisa, retratando nosso folclore como ninguém. Nós, amigos, temos a obrigação de dar continuidade à Turma do Xaxado, divulgando e perpetuando a obra de Antonio Cedraz.


    A Triste Partida, de Patativa do Assaré, na voz de Luiz Gonzaga



AGRADECIMENTOS:
Gonçalo Junior
Sidney Falcão
Suely Furukawa
Blog do Xandro
(blogdoxandro.blogspot.com)
Quadro a Quadro
(Lucas Pimenta)

PARA QUEM AINDA NÃO CONHECE O TRABALHO DE ANTONIO CEDRAZ, ACESSE:
http://www.xaxado.com.br

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