terça-feira, 16 de agosto de 2011

UM ESTÚDIO E UMA EDITORA OUSADA

A Editora Abril que sempre foi a líder absoluta dos quadrinhos no Brasil durante as décadas de 60, 70 e 80, viu seu reinado desmoronar quando em 1987 a RGE (Rio Gráfica e Editora, braço editorial das Organizações Globo) tirou dela seu maior artista: Maurício de Sousa. Suas revistas sempre foram campeãs de vendagem, abaixo apenas dos personagens Disney. Mas para abrigar um ícone do porte de Maurício a RGE precisava mudar. E mudou. Tudo. Virou oficialmente Editora Globo, mudou-se do Rio de Janeiro para São Paulo, e instalou-se ao lado dos estúdios de Maurício, na Rua do Curtume, no bairro da Lapa. Em pouco tempo já era a líder, passando inclusive as publicações de Walt Disney. Mas faltava ainda entrar no milionário ramo dos quadrinhos de super-heróis. A Abril já publicava a algum tempo os heróis da Marvel e da DC, as duas maiores editoras de hqs dos EUA. Em setembro de 1989, a arrancada começou, lançando com grande estardalhaço a minissérie ORQUÍDEA NEGRA, de Neil Gaiman e Dave Mckean, seguida de outros sucessos como V DE VINGANÇA, A GUERRA DE LUZ E TREVAS, O PRISIONEIRO, entre outras. Todas minisséries. Para a Globo publicar tantos títulos, era necessário o apoio de estúdios externos, para fazer a tradução e adaptação. É aí que surge o STUDIO IMAGIA, capitaneado por Nilton Sperb e Karin Nielsen. Com o know-how necessário, como ex-editores de super-heróis na Abril, o IMAGIA foi o responsável pela arrancada da Globo nessa área, e, em uma época que qualquer informação passada para a concorrente poderia prejudicar os negócios, foram então considerados o parceiro ideal, pois não trabalhavam com os títulos de heróis da Abril, todos entregues ao Estúdio Artecômix. Daí não foi nenhuma novidade, quando a Globo entregou ao Imagia o seu primeiro título mensal de super-heróis, DREADSTAR, O GUERREIRO DAS ESTRELAS, lançado em julho de 1990 (veja matéria neste blog). 
Mas a grande novidade ainda estava por vir. Em maio de 1990, a Globo lança com ampla divulgação, a graphic novel EXCALIBUR, e dois meses depois a mensal MARVEL FORCE, com grandes personagens, como MOTOQUEIRO FANTASMA, CAVALEIRO DA LUA, FORÇA DE ATAQUE MORITURI, NOVOS GUERREIROS, GUARDIÕES DA GALÁXIA, além do próprio EXCALIBUR. Isso causou revolta e indignação entre os diretores e editores da Abril, pois seguindo a sua cronologia, EXCALIBUR só seria publicada no ano seguinte, já estava programada. Lançada antes, traria histórias com acontecimentos que ainda não haviam sido mencionadas nos seus títulos. Isso daria uma balançada geral no seu cronograma. Em entrevistas a jornais da época, o editor de Marvel Force, Leandro Luigi Del Manto, disse que quando isso acontecesse, publicaria matérias explicativas, o que realmente foi feito. A tradução e adaptação (decorados e colorização) também foi do IMAGIA.
 A Globo encartou em suas revistas esse folheto, contando as novidades bombásticas que estavam por vir. Marvel Force, Excalibur, Lobo, entre outras.

 Capa do numero 1 de MARVEL FORCE.


O número 3 de MARVEL FORCE, trouxe um dos personagens de maior sucesso lá fora, pela primeira vez no Brasil.

A minissérie do PANTERA NEGRA, foi lançada em dezembro de 1990. Participei fazendo os decorados.
Na sequência, a Globo lançou outros títulos, como O PRISIONEIRO, ELRIC, MUNDO SEM FIM. Séries e minisséries que fizeram sucesso. O STUDIO IMAGIA tornou-se o grande parceiro da Globo nesta guerra travada com a Abril, pela preferência dos leitores, traduzindo e adaptando todos esse títulos. Mas os tempos eram outros, tempos de Collor, e entre 1992 e 1993 tanto uma quanto a outra cancelaram inúmeros títulos, não só juvenis como infantis também. Vários estúdios fecharam e o IMAGIA foi nessa. Estava encerrada as atividades de um dos maiores estúdios de hqs do Brasil. Entre tantos títulos infantis e juvenis, era acima de tudo um centro de criação, de pessoas apaixonadas pelo que faziam. Tinha um grande número de colaboradores, entre eles, Vera Lucia Costa, José Wilson Magalhães, Sylvio Pinheiro (que depois, tornou-se sócio), Fati Gomes, Lucrécia Freitas, Mano, Cynthia Stein, Noriatsu Yoshikawa, Nilton Morise, e eu, que fazia decorado e cor. Nilton e Karin, donos do Imagia, foram viver então nos Estados Unidos, e foi lá que nasceram seus dois filhos, Johann e Stefan. Trabalhando na ONU, onde inclusive já foi voluntário em missão no Haiti, Nilton Sperb que também é formado em cinema, ainda mantém contato com as hqs frequentando comics shops e eventos como o New York Comic Con, cuja próxima edição acontece em outubro. Circulando entre os stands anonimamente como qualquer fã, ninguém é capaz de imaginar que ali está um cara que contribuiu e muito para que os leitores de todo o Brasil, pudessem conhecer e curtir os seus incríveis super-heróis, e fazer desse país um dos maiores consumidores de suas criações.
Em recente visita ao Brasil, Nilton deu uma passada em casa. Da esquerda para a direita, Terezinha e eu, Nilton, Karin e Stefan.

Faltou o fotógrafo da primeira, Johann (ao centro).

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